O economista Richard Thaler, vencedor do prêmio Nobel de Economia por sua contribuição no campo das finanças comportamentais, se destacou em sua análise acerca das reações exageradas – overreaction – não só dos investidores, mas também dos profissionais do mercado diante do desempenho das ações e de notícias envolvendo as empresas.
Em seu estudo, Thaler mostrou que ações que tiveram um desempenho ruim nos últimos 5 anos tendem a apresentar variações positivas consideráveis nos anos subsequentes. Isso se dá em razão das expectativas dos investidores sobre essas ações, isto é, esperam sempre o pior dessas empresas ‘perdedoras’. O mesmo ocorre com as projeções de analistas profissionais, que divulgam projeções extremamente pessimistas para essas empresas.
Com as expectativas pessimistas sobre esses papéis, não fica difícil dessas empresas divulgarem resultados superiores às projeções dos analistas e, com isso, sofrerem um grande movimento de compra das suas ações e consequente valorização acima das médias do mercado, medido pelos índices, como o Ibovespa. Se o mercado espera o pior das empresas, qualquer resultado que supere essas expectativas tem um efeito muito positivo sobre os preços das ações.
Thaler mostrou que o inverso também ocorre, no caso das ações ‘queridinhas do mercado’ as expectativas e projeções são sempre otimistas, e por vezes incompatíveis com o crescimento de resultados das empresas. Assim, qualquer resultado bom, mas abaixo das expectativas, empurra os preços dessas ações para baixo. Além disso, ainda existe o fato delas estarem sobrevalorizadas, e os investidores receosos em relação a uma correção, que os faz vender as ações em qualquer notícia negativa.
A estratégia de investimentos ‘contrarian’ busca se beneficiar dessa reação exagerada dos investidores. Ao comprar ações ‘perdedoras’ em detrimento das ações ‘vencedoras’, o investidor contrário consegue auferir lucros superiores ao restante do mercado. Esses resultados foram comprovados por diversos estudos subsequentes, em diferentes mercados e tipos de ativos. Grandes investidores famosos são considerados como contrarians por utilizarem estratégias baseadas em múltiplos que levam em consideração o preço da ação, como Warren Buffet, Charlie Munger, Ray Dalio, Sir John Templeton, Michael Burry e George Soros.
Além do desempenho da ação nos últimos meses/anos, os principais múltiplos utilizados na análise de ativos para a estratégia contrarian são os seguintes:
P/L: indicador preço/lucro, que mostra quanto tempo (em anos) o lucro por ação pagará o preço da ação atual – quanto mais baixo melhor;
P/VP: indicador preço/valor patrimonial, que mostra o preço da ação em relação ao valor contábil de cada ação – quanto mais baixo melhor; e
EV/EBITDA: indicador valor de mercado/lucro antes dos juros, impostos, depreciação e amortização (LAJIDA), que mostra o tempo (em anos) que o lucro operacional líquido, somado das depreciações e amortizações, levará para pagar o valor de mercado da empresa – quanto mais baixo melhor.
Independentemente do modo de escolha das ações, é amplamente conhecido e comprovado por diversos investidores de sucesso que comprar empresas descontadas possibilita ganhos superiores ao mercado no longo prazo. Resta ao investidor escolher uma estratégia e quais indicadores utilizar, montar seu portfólio e acompanhar esse portfólio sem mudar de estratégia. Se você precisar de ajuda nesse processo, estamos sempre à disposição.
Gustavo Machado, CNPI

Consultor autorizado pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e analista de investimentos certificado pela Associação dos Analistas e Profissionais de Investimentos do Mercado de Capitais (Apimec). Possui mais de 8 anos de experiência no mercado financeiro. Bacharel em Economia e mestrando pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), alumni da Foundation for Economic Education (FEE) e da Cato University: College of Economics.