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Resumo completo do livro a Fórmula Mágica de Joel Greenblatt

Atualizado: 30 de jun. de 2022





Todo e qualquer investidor já sonhou com uma receita mágica que pudesse bater os índices do mercado de ações e gerar grandes lucros, confesso que eu mesmo já pensei nisso em algum momento, afinal, quem não gostaria de ter uma receita simples que pudesse gerar bons resultados, não é mesmo? Muita gente já pensou sobre, mas uma em especial, Joel Greenblatt, desenvolveu a fórmula mágica para bater o mercado de ações. Li o livro dele, testei sua metodologia aqui no Brasil e no exterior e no texto de hoje vou tecer comentários acerca da tão famosa Magic Formula.




Quem é Joel Greenblatt?

Americano, acadêmico na universidade de Columbia, gestor de fundos e autor do livro: “The Little Book that Beats the Market”. Por muitos anos ele esteve à frente da Gothan Partners, um fundo de investimento que obteve um desempenho anualizado superior a 50% ao longo de 10 anos consecutivos. Seu grande objetivo era conseguir, de algum modo, quantificar a metodologia de investimentos conhecida como Value Investing, muito difundida e utilizada por investidores renomados, famosos e consagrados do grande público: Benjamin Graham e Warren Buffett, ambos são grandes inspirações de Joel.


O que é a fórmula mágica?


A fórmula mágica nada mais é do que um método de investimento que visa garantir a compra de uma boa empresa a um preço justo, isto é, com um desconto em relação ao seu valor real. Através da fórmula que Greenblatt desenvolveu estipula-se um ranking daquelas empresas que oferecem as melhores condições para investimento e a partir daí realiza-se a compra dos ativos.


A fórmula mágica é baseada em uma estratégia de valor mas, principalmente, quantitativa. E o que são investimentos quantitativos? São modelos, baseados em regras, que identificam através da análise de determinados dados numéricos eventuais oportunidades de investimentos. Geralmente os investimentos “quants” estão associados a robôs de investimento, associados ao trading por tendência ou algo do gênero. A magic formula é um modelo quantitativo, regrado, simples, mas que tem o investimento por valor como essência. E o que é o investimento por valor? Nada mais é do que comprar empresas boas, lucrativas e que por alguma irracionalidade momentânea do mercado estejam sendo negociadas por valores abaixo dos seus preços justos. Através da fórmula estipula-se um ranking daquelas empresas que oferecem as melhores condições para investimento.


Em suma, a Magic Formula busca tornar simples e acessível a qualquer investidor, uma estratégia de investimentos por valor e que consiga entregar resultados no longo prazo.


Como montar o ranking da fórmula mágica?


O ranking tem dois grandes objetivos: encontrar empresas muito boas (que possuam um bom retorno sobre o capital investido) e que estejam sendo negociadas a um preço justo ou com desconto. Para tanto, se faz necessário montar dois rankings, um primeiro para encontrar as empresas maravilhosas e outro para encontrar as empresas que estejam descontadas de seu valor justo. Após isso, soma-se a classificação obtida em cada um dos rankings no formato de pontos, por exemplo:


Empresa A ficou em 1º lugar no ranking de boas empresas e em 3º lugar no ranking de empresas mais baratas.


Empresa B ficou em 2º lugar no ranking de boas empresas e 1º lugar no ranking de empresas mais baratas.


Empresa C ficou em 4º lugar no ranking de boas empresas e 2º lugar no ranking de empresas mais baratas.


Desse modo, a empresa A somou 4 pontos, a empresa B somou 3 pontos e a empresa C somou 6 pontos. O ranking será constituído de maneira crescente, portanto, a ordem correta seria:


1º) Empresa B - 3 pontos

2º) Empresa A - 4 pontos

3º) Empresa C - 6 pontos


Ao ranquear todas as empresas da bolsa, o ideal seria comprar as 20 primeiras com pesos iguais (mesmo valor investido em cada ação), selecionando as melhores do ranking. Greenblatt ressalta que o ideal não seria montar toda a carteira de uma única vez e sim ao longo de um ano, comprando três ações por mês. Após a carteira estar completa com as 20 ações, o ideal é balancear o portfólio anualmente, retirando do portfólio aquelas que não estiverem mais nas 20 primeiras colocações. Ao fazer isso, sistematicamente, por períodos superiores a 10 anos os resultados expressivos poderão ser percebidos.


Entendi Stefano, mas não é uma estratégia “quant”? Quais os critérios para selecionarmos as melhores empresas e as mais baratas? Obviamente não me esqueci desse pequeno detalhe, vamos lá:


CRITÉRIOS PARA MONTARMOS OS RANKINGs:


  • Como montar o ranking das melhores empresas:


É preciso descobrir o Retorno sobre o Capital (ROC) e a partir daí ranquear as empresas.


ROC = Ebit/Capital


Na qual “ebit” significa “earnings before interest and taxes” um dado que busca informar qual seria o lucro que a empresa gera na sua parte operacional. E “capital” representa os ativos fixos da empresa acrescidos do capital de giro (ativo circulante - passivo circulante - caixa).


No fim das contas, quanto maior for o ROC da empresa melhor, ela está gerando mais dinheiro com cada recurso investido na própria empresa.


  • Como montar o ranking do preço justo das empresas:


O ranqueamento será feito através do múltiplo earning yield (EY), que na prática é um múltiplo similar ao inverso do P/L. O cálculo do earning yield é feito através da seguinte fórmula:


EY = Ebit/EV


Perceba que novamente é utilizado o EBIT e não o lucro, isso ocorre pois o lucro líquido é muito influenciado pela estrutura de capital adotada pela empresa. Ao invés de utilizar o patrimônio líquido no denominador ele prefere utilizar o "Enterprise Value”, que basicamente é a soma do valor de mercado da empresa menos o seu endividamento líquido.


Feito a montagem destes dois rankings, basta realizar o processo que citei acima e dar sequência na montagem do ranking principal.


IMPORTANTE!!!

Critérios de Exclusão de Empresas do Ranking


Se você chegou até aqui no artigo, parabéns, estamos quase finalizando e chegando no momento no qual vamos falar de resultados, mas antes é necessário entender que algumas determinadas ações não podem fazer parte do ranking e devem ser filtradas dele. O autor destaca os critérios de exclusão que devem ser utilizados:


1º) Retirar da análise empresas muito pequenas e que portanto teriam menos liquidez; e

2º) Excluir empresas que devido aos seus modelos de negócios, tendem a apresentar leituras distorcidas nos indicadores fundamentalistas mais comuns como é o caso de bancos e seguradoras.


As ações que devem ser excluídas dos rankings são:


  • Empresas com capitalização de mercado inferior a US$ 50 milhões

  • Empresas de infraestrutura e instituições financeiras

  • Empresas estrangeiras (representadas por ADRs – American Depositary Receipts).

RESULTADOS


Show Stefano e os resultados? Tenho certeza que você está há bastante tempo querendo saber deles! O autor, no livro, compartilha os seus resultados em comparação com o S&P 500. Ele traça dois cenários e rankings em que a fórmula fora testada e aplicada, um primeiro, que vou chamar de Ranking A, pegando as 1.000 maiores empresas e que estas detinham valor de mercado superior a 1 bilhão de dólares e o outro, que vou chamar de Ranking B, com as 3500 maiores empresas incluindo empresas com valor de mercado superior a 50 milhões de dólares, os resultados foram os seguintes:


Entre 1988 e 2009, o S&P 500 (índice das 500 maiores empresas americanas) entregou em média, um retorno de 9,5% ao ano enquanto que o ranking A (maiores empresas) entregou 19,7% ao ano e o ranking B (mais abrangente, incluindo empresas pequenas) entregou 23,8% ao ano. Importante ressaltar que em janelas de tempo menores do que a retratada pelo autor, houveram períodos em que o S&P500 performou melhor que a Magic formula, contudo, quando analisado no longo prazo, o resultado obtido pela metodologia pode ser considerado excelente.


Abaixo observamos imagem do livro “Excess Returns” de Frederik Vanhaverbeke que representa o retorno obtido dos maiores investidores da história sobre o S&P500 e o tempo em que estiveram/estão a frente da estratégia de gestão:

Como podemos observar a estratégia de Greenblatt se mostra eficaz e gerou retornos interessantes ao longo dos anos.

A Magic Formula funciona no Brasil?


Os estudos e análises do autor se referem a análises realizadas no mercado norte-americano. Mas e no Brasil, a estratégia funcionaria? A resposta é que sim, funcionaria. Em breve pesquisa encontrei dois estudos universitários que comprovam a eficiência da Magic Formula no Mercado Brasileiro. O primeiro deles é de Rodolfo Gunther Dias Zeidler da FGV e de Gabriel Roman para a UFRGS. Sem entrar em detalhes mais técnicos, ambos realizaram backtest’s com a Magic Formula no mercado brasileiro, analisando a estrutura do mercado e a capacidade de desenvolvimento na íntegra da estratégia de Greenblatt. Eles realizaram tanto testes com variadas composições de portfólio (incluindo a quantidade de ações que as carteiras teriam), tamanho das empresas, testes de stress, tempo de permanência das ações no portfólio, e inclusão de outras técnicas de análise junto com a Magic Formula, além de também testar uma série de outros quesitos técnicos. Seguem abaixo os resultados dos testes:

Tabela retirada do Estudo de Gabriel Roman (2021)

Gráfico retirado do estudo de Rodolfo Gunther Dias Zeidler (2014)


A conclusão de ambos é que sim, é possível realizar o uso da Magic Formula no Brasil, entretanto, é necessário atentar para eventuais problemas com liquidez. No Brasil temos menos ações negociadas em bolsa do que no mercado americano, bem como menos empresas com valor de mercado superior a U$1 Bi, o que pode afetar consideravelmente o desempenho na íntegra da estratégia caso não ocorra alguma flexibilização dos dados padrão de Greenblatt. Logicamente que isso não elimina de modo algum a possibilidade de uso da estratégia dele aqui no país. Vou deixar no final, junto a bibliografia o link para acesso a ambos os estudos, que obviamente são muito mais amplos e completos do que os relatos e extratos que forneci aqui.



CONCLUSÃO


Existe uma fórmula para ter bons resultados na bolsa no longo prazo? Sim, Greenblatt conseguiu desenvolver uma que se mostrou sólida e com resultados consistentes a longo prazo. O livro e a estratégia de Greenblatt ficaram conhecidos e rapidamente se tornaram clássicos da literatura financeira. A fórmula nada mais é do que um método de investimento que visa garantir a compra de uma boa empresa a um preço razoável. Em diversos estudos feitos no mundo, com backtests, autores mostraram a eficácia da Fórmula Mágica, inclusive aqui no Brasil conforme apresentado no decorrer do texto.


Você deve utilizar na plenitude a Magic Formula? Essa é uma decisão que só você pode tomar. Existem diversas formas de realizar a análise de empresas e compor o seu portfólio ideal, não existe um único e ideal jeito, o correto é avaliar aquele que faça mais sentido a você. Diversas metodologias de investimento entregam resultados excelentes. No que tange a Magic Formula, ela é uma metodologia quantitativa, acessível e que busca simplificar o modelo do Value Investing mas isso não significa que seja a única estratégia e que ela seja a estratégia perfeita.


Acredito que a Magic Formula possa ser utilizada sim para o filtro inicial quantitativo das empresas do mercado, entretanto, se acrescentados alguns critérios mais qualitativos é bem possível que consigamos extrair resultados quiçá até melhores do que os obtidos por Greenblatt. Além disso, o próprio autor recomenda ou melhor, desaconselha que a população em geral saia comprando e investindo diretamente em ações. Ele alerta que a grande maioria das pessoas deveria optar por investir através de ETF’s ou através de fundos, por ser algo mais simples e viável de se fazer do que a gestão ativa de compra e venda de ações. Mesmo com uma Magic Formula, é necessário despender de tempo e conhecimento para aplicar a estratégia e que se feita de modo incorreto acarretará em prejuízos. Compartilho do pensamento do autor, investir diretamente em ações é uma tarefa que deve ser delegada a profissionais ou se não, realizar de modo passivo, mesmo que isso acarrete em custos ao investidor. Acredito que seja mais interessante ter um custo mas ter uma estratégia sendo empregada na íntegra do que tentar realizar algo que não é a sua especialidade e acabar contraindo resultados pífios ou até mesmo prejuízos consideráveis.


Essa é, sem sombra de dúvidas, uma das melhores obras já feitas acerca de planejamento financeiro pessoal. Tentei aqui resumir da forma mais objetiva e completa conforme a minha interpretação, mas recomendo fortemente a leitura do livro, só lendo, estudando e colocando em prática é que você vai conseguir absorver o máximo do conhecimento.

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Stefano Tremea

Stefano Tremea, CFP®

Consultor autorizado pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM), Certified Financial Planner (CFP) certificado pela Associação Brasileira de Planejamento Financeiro (Planejar) e habilitado junto à Superintendência de Seguros Privados (SUSEP). Possui mais de 10 anos de experiência no mercado financeiro. Bacharel em Administração de Empresas pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e pós-graduado em Planejamento Financeiro e Finanças Comportamentais pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS).




BIBLIOGRAFIA




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