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Resenha crítica do livro: Dominando o Ciclo de Mercado escrito por Howard Marks

"Dominando o Ciclo de Mercado" de Howard Marks é uma obra para quem busca entender e navegar pelas altas e baixas inevitáveis do mercado global. Publicado em 2018, o livro oferece uma análise detalhada dos ciclos econômicos e de mercado, explorando como os investidores podem calibrar seus portfólios para se beneficiar desses movimentos cíclicos. Howard Marks é cofundador da Oaktree Capital Management, uma das maiores gestoras de recursos do mundo, neste livro ele complementa os ensinamentos propostos no seu Best Seller: O Mais importante para o Investidor e nos apresenta conceitos importantes sobre como dominar o ciclo de mercado fez com que ele tivesse sucesso ao longo de mais de 40 anos de carreira no mercado financeiro.

"Calibrar um portfólio é o assunto principal deste livro", o autor argumenta que, ao entender os ciclos de mercado, os investidores podem ajustar suas estratégias para minimizar riscos e maximizar retornos. A ideia é reconhecer que os mercados são inerentemente cíclicos e que esses ciclos oferecem tanto oportunidades quanto armadilhas para os investidores.  Nesse sentido, entender o ciclo de mercado é importante para o processo de tomada de decisão, seja nos investimentos ou nas decisões da vida cotidiana. Por exemplo: será que um cenário contracionista (taxas de juros estão mais altas) é o melhor momento para contrair uma dívida e expandir uma operação? Será que não seria mais adequado a tomada de crédito em um cenário econômico mais expansionista (taxas de juros mais baixas)? Entender os ciclos de mercado é algo que contribui muito não só para investidores como também para tomadores de decisão em geral.


Os Ciclos econômicos e os aspectos comportamentais

Para facilitar o entendimento do que é o ciclo econômico te convido a lembrar daquele ditado: tempos difíceis criam homens fortes, homens fortes criam tempos fáceis, tempos fáceis criam homens fracos, homens fracos criam tempos difíceis, e então, tudo se repete. Em resumo, isso é o ciclo econômico, a economia anda exatamente assim. Diante disso, o autor discute extensivamente a inevitabilidade dos ciclos econômicos: "Ciclos são inevitáveis… No final, o céu não é o limite, e algumas coisas vão para o chão".  Assim como no livro o Mais Importante para o Investidor, a descrição dele sobre esse movimento pendular do mercado merece destaque:  "As mudanças de humor do mercado de valores mobiliários lembram o movimento de um pêndulo". Segundo Marks, sempre que os preços dos ativos se aproximam dos extremos (altas máximas ou quedas as mínimas) eles tendem a voltar com força à média, não permanecendo muito tempo nos extremos. No entanto, como um pêndulo, a força que puxa de volta é tão forte que fará com que o pêndulo não pare no ponto médio e se encaminhe para a outra extremidade (de uma alta para uma baixa, ou de uma baixa para uma alta), constituindo assim um ciclo completo de mercado. No fim das contas, o que influencia a construção do ciclo de mercado são as pessoas e seus movimentos emocionais, a falta de comportamento racional é a causa do movimento pendular: "Os ciclos nas economias, nas empresas e nos mercados continuarão a ocorrer pelo menos enquanto as pessoas estiverem envolvidas na tomada de decisões-chave - o que, acredito, significa para sempre". 

Se o comportamento emocional cria o ciclo, atuar de forma racional poderia trazer mais lucros: "É a partir dos extremos do ciclo de medo e ganância que surgem as maiores oportunidades de lucros de investimento". Para tanto é importante que o tomador de decisões saiba identificar em que ponto do ciclo a economia está e a partir daí tomar uma decisão racional. Podemos conectar esse capítulo com os conhecimentos abordados no livro Psicologia Financeira de Morgan Housel: “o sucesso financeiro tem menos a ver com sua inteligência e muito mais a ver com seu comportamento”. Concordo com ambos autores, atuo com gestão patrimonial há anos, e na rotina do dia a dia, a maior parte dos investidores ignora a razão e quer tomar decisões com base na emoção. Quando o The Economist coloca uma foto na capa de sua revista em que aparece uma montagem do Cristo Redentor decolando quando a bolsa brasileira está na máxima histórica, 9 em cada 10 investidores querem colocar dinheiro na bolsa. Só que isso é o contrassenso do pensamento racional óbvio de qualquer processo de investimento que é definido por comprar na baixa e vender na alta.

Afinal, como Marks diz: “nada dura pra sempre”, o movimento pendular fará a correção do mercado e se você comprar no preço errado (em alta no exemplo citado acima) pode ser que nunca mais consiga recuperar. Ao estudar mais profundamente o campo da economia comportamental, você verá que na maior parte das vezes, as tomadas de decisões baseadas em quesitos emocionais tendem a não ser tão interessantes financeiramente quanto às tomadas de forma racional. Como explicado por Daniel Kahneman no livro Rápido e Devagar, a dor da perda impacta duas vezes mais que um ganho de mesma proporção. O investidor leigo, muitas vezes, não tem controle emocional para lidar com a volatilidade e com as perdas. Diante disso, nosso trabalho no dia a dia com os clientes, é, na maior parte do tempo, ligado ao controle emocional do cliente e não tanto na questão técnica, tamanha influência do comportamento no resultado final. Acredito que é nossa obrigação entender o momento do ciclo para, a partir daí, direcionar de forma mais racional a alocação de ativos e com isso obter melhores resultados.


As previsões macroeconômicas na visão de Marks:

Assim como Warren Buffet, Marks é cético em relação às previsões macroeconômicas: "É improvável que tentar prever o futuro macro ajude os investidores a obter um desempenho de investimento superior. Muito poucos investidores são conhecidos por terem superado a previsão macro". Ele enfatiza a dificuldade de prever consistentemente os movimentos econômicos e alerta contra a tentação de agir com base em previsões: "Agir com base em previsões econômicas é tentador, especialmente porque a recompensa por aquelas que estejam corretas teoricamente poderia ser alta. Mas a dificuldade em poder fazê-lo de forma correta e consistente não deve ser subestimada". A grande dificuldade de desenhar e tentar controlar cenários macroeconômicos é a infinidade de dados e variáveis que podem gerar impactos no resultado final, sendo impossível prever todos os cenários. A aleatoriedade de ocorrência de eventos improváveis causa grande impacto nesse tipo de estratégia de alocação.

Nessa mesma linha, tanto Nassim Taleb quanto Daniel Kahneman defendem em suas obras que:A tendência de ver padrões na aleatoriedade é esmagadora.” O ser humano busca através de previsões adivinhar o que vai acontecer no futuro, quando na verdade, ninguém detém esse poder. E muitos dos que acertam, o fizeram por nada mais do que obra do acaso, a mais pura sorte mesmo. Para fins de contextualização com a realidade, no momento em que escrevo essa resenha, o índice de desempenho da média dos Hedge Funds no Brasil (IHFA) apresenta um retorno acumulado de 41,88% nos últimos 5 anos, no mesmo período, o título público brasileiro mais conservador (Tesouro Selic/LFT), que entrega retorno na faixa de 100% do CDI, apresenta um retorno acumulado de 47,59%. E não se engane achando que na gestão dos Hedge Funds brasileiros estão amadores, muito pelo contrário, ali está a elite do conhecimento relacionado ao mercado financeiro. Mesmo com times repletos de profissionais  que estudaram nas melhores universidades do país e no exterior, Pós-Graduados, MBAs, certificações internacionais, a média de resultado desses gestores numa janela de 5 anos não consegue superar a referência de renda fixa brasileira.

 Obviamente estou sendo simplista e quiçá desonesto na comparação, não levo em consideração o fato de que apesar de um retorno menor, a relação de risco versus retorno caso os fundos tenham exposição a outros países possa ter sido melhor do que a referência comparada devido a diversificação que tiveram. Feita a devida ressalva, proponho a seguinte reflexão, se a elite do conhecimento e da informação não consegue prever o futuro, e com isso obter resultados consistentes em longo prazo, você conseguirá? Afinal, como disse John Kenneth Galbraith: Temos duas classes de pessoas que fazem previsões: aquelas que não sabem, e aquelas que não sabem que não sabem”.


A importância da gestão de riscos


Para Marks, a gestão de riscos é crucial. Ele define risco como "a probabilidade de perda permanente de capital" e destaca a importância de entender que o risco é inerente à incerteza: “Em essência, risco quer dizer que não sabemos o que vai acontecer… A cada momento rumamos para o desconhecido. Há uma variedade de resultados, e não sabemos onde (o resultado real) ficará nessa série”. O autor argumenta que o comportamento dos participantes de mercado é uma fonte significativa de risco, mas também de oportunidades: "O risco em investir não vem principalmente da economia, das empresas, dos títulos, dos certificados de ações ou da bolsa de imóveis. Vem do comportamento dos participantes de mercado". Novamente ele traz à tona a questão da importância do comportamento na gestão e controle dos riscos, pois de fato isso gera grandes impactos no resultado final. No seu outro livro, O Mais Importante para o Investidor, Marks destaca a importância de sermos investidores defensivos: “Há investidores velhos e há investidores ousados, mas não há investidores velhos e ousados”. Entendo, assim como o autor,  que a defesa pode proporcionar bons retornos, e que estes, sejam alcançados de forma consistente enquanto que o ataque pode ser feito de sonhos que não costumam se tornar realidade. Ao investir de maneira defensiva pode ser que deixemos passar algumas oportunidades, daremos menos retorno ou menos acertos perfeitos, mas é muito provável que fracassemos consideravelmente menos. Essa analogia pode ser feita também com o futebol, de certo modo, podemos fazer uma analogia do Brasileirão com investimentos de longo prazo. Em estudo recente aqui na empresa, analisamos o resultado do Brasileirão nas últimas 21 edições, as edições de pontos corridos. Percebemos que os times que tiveram melhor ataque foram campeões em 13 edições, enquanto os que tiveram a melhor defesa foram campeões 11 vezes. No entanto, os times que apresentaram melhor saldo de gols foram campeões em 19 edições (em algumas edições times que tiveram melhor saldo de gols também tiveram melhor ataque ou melhor defesa, por isso que a soma dos três itens resulta em número maior que 21). Nessa linha, a conclusão é que o balanceamento dos times, um equilíbrio entre gols feitos e tomados, gera a melhor probabilidade de resultados positivos. No caso dos investimentos, se expor a riscos controlados, de maneira mais defensiva e diversificada pode nos trazer também resultados interessantes.

O autor define o que é o investidor ideal: "O investidor superior é maduro, racional, analítico, objetivo e não emotivo". No que tange a ciclos de mercado ele discute a importância de agir de maneira contrária à corrente dominante dos investidores: "Quando os demais se despreocupam com o risco e deixam a cautela de lado, devemos tornar-nos mais cautelosos. Mas também é preciso que se diga que quando outros investidores estão em pânico, deprimidos, não conseguindo imaginar condições nas quais o risco valeria a pena, devemos tornar-nos agressivos". Ele enfatiza a necessidade de ser diligente, cético e avesso ao risco, mas também de estar sempre atento às oportunidades de retorno potencial que compensam o risco. Warren Buffett pensa da mesma forma: “quanto menor a prudência com que os outros conduzem seus negócios, maior é a prudência com a qual devemos conduzir nossos próprios negócios”.

Ser um investidor contrário à manada pode trazer grandes oportunidades. Entender o ciclo e em que ponto do ciclo estamos é fundamental para otimizarmos nosso resultado, Marks destaca que os maiores lucros vêm da compra de ativos quando o pessimismo é extremo e os preços estão deprimidos: "Em épocas de extremo negativismo, uma exagerada aversão ao risco provavelmente fará com que os preços afundem e perdas adicionais sejam altamente improváveis: o risco de perda, portanto, é mínimo". Nessa mesma linha do autor, concordo e defendo que o investidor superior ou o investidor inteligente precisa também ser tático. Quando os ciclos se aproximam dos extremos, é impossível determinar o ponto máximo de baixa, mas a partir de determinado momento no extremo, o risco de perda se torna tão ínfimo que faz sentido taticamente comprar ativos que estejam extremamente descontados. Esses ativos que em tese apresentariam maior risco, na prática, devido ao desconto excessivo no preço já não apresentam risco tão grande e portanto, maximizam a possibilidade de retorno nos fornecendo maior margem de segurança para o investimento e consequentemente maior potencial de lucro.


É importante apresentar as limitações apresentadas pelo autor sobre como lidar com os ciclos de mercado, ele afirma que "detectar e explorar os extremos é de fato o melhor que podemos esperar". Ele ressalta que não se deve esperar conclusões lucrativas todos os dias, meses ou mesmo todo ano. As oportunidades de tirar proveito significativo de ciclos são raras e geralmente atreladas aos extremos. Marks menciona que em 48 anos de experiência, identificou apenas cinco oportunidades para se posicionar taticamente e obter grandes lucros nos extremos do ciclo. Ele admite que, mesmo nessas ocasiões, não tinha certeza absoluta da ação que estava tomando, a aleatoriedade sempre esteve presente. Ao final do livro ele conclui que o segredo do sucesso do investidor é a sobrevivência. Ele resume sua sabedoria acumulada ao longo de décadas em uma frase simples: "O truque não é ser o mais competente selecionador de ações, o mais vitorioso nas previsões ou o desenvolvedor do modelo mais elegante. Tais triunfos são transitórios. O truque é sobreviver!". Evite a todo custo o risco de ruína financeira. Não corra riscos desnecessários. Muita gente que se expõe a riscos absurdos pode ter ganhos rápidos, entretanto, assim como constroem fortunas rapidamente, também as perdem rapidamente. Como dito por Morgan Housel em Psicologia Financeira: “a capacidade de permanecer ativo por muito tempo, sem se apagar ou ser forçado a desistir, é o que faz a diferença de verdade”. Avalie os riscos que você está correndo e pense se estão de acordo com o seu perfil. Prefira ser constante e menos volátil do que correr riscos de perder tudo. Continuar jogando o jogo e sobreviver é fundamental para colher bons frutos no longo prazo.

Dominando o Ciclo de Mercado de Howard Marks é uma leitura necessária para investidores que desejam entender e navegar pelos ciclos econômicos e de mercado. Neste livro Marks complementa seu best seller e oferece uma análise perspicaz e baseada em sua vasta experiência, destacando a importância de calibrar o portfólio, gerir riscos, reconhecer a inevitabilidade dos ciclos e atuar taticamente tirando proveito deles, afinal, nos extremos do ciclo precisamos saber que o pessimista sempre parece, de longe, muito mais inteligente, cativante, mas é o otimista que, no fim do dia, ganha dinheiro. 


Por Stefano Wigner Tremea , CFP® - Cofundador da Musa Capital


 

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