top of page

Resenha Crítica: 1984 - George Orwell (Resumo comentado do livro 1984)



O livro “1984” escrito e publicado por George Orwell em 1949 é considerado um clássico da literatura. Ele retrata uma história fictícia de uma sociedade futurista totalitária, na qual o mundo após uma série de bombardeios nucleares se divide em apenas três superestados gigantes que continuam em guerra: Oceania, onde se passa a história, Eurásia e Lestásia. Retratado no formato de um romance, tem como personagem principal Winston Smith, funcionário público, membro do partido dominante que começa a se questionar se aquele regime totalitário era de fato o melhor para a sociedade como um todo. Através de um relacionamento proibido com Júlia, o personagem de Winston vai se construindo cada vez mais confiante de que aquela realidade está longe de ser a ideal, mas ele também sabe que, cedo ou tarde, seu destino está traçado, em algum momento será capturado pelo governo por simplesmente discordarem do regime. É um livro importante que ensina, principalmente, a importância da liberdade individual, da resistência à opressão e como devemos ter vigilância constante contra a manipulação dos meios de comunicação e da reescrita da história.

O autor começa o livro explicando como o mundo chegou naquela situação e como a sociedade da Oceania era de fato organizada. Após as guerras nucleares, a Oceania era um superestado composto pelas Américas, Reino Unido e parte da África. Dentro dessa região a sociedade era organizada em três grupos:


  • O partido é o grupo que comanda o país, possui total controle sobre a política, a economia, o poderio militar e a cultura. Os membros do partido são formados desde a sua infância para exercerem as suas funções de comando dentro do estado. O partido ainda possui uma subdivisão: o núcleo e o partido externo. O núcleo é o alto comando, é quem de fato é privilegiado e governa, possui número limitadíssimo de membros. O partido externo nada mais é do que os braços e executores das políticas totalitárias determinadas pelo núcleo do partido.

  • Os “proletas” são a classe média, correspondem a grande maioria da população. Vivem em áreas pobres, superlotadas, com nenhum estímulo ou ferramentas de educação, executam apenas trabalhos de baixo intelecto e são vítimas do racionamento de alimentos e insumos que o estado os impõe.

  • Os inimigos do estado são todos aqueles que atuam como dissidentes políticos, criminosos de guerra capturados, criminosos em geral e rebeldes. Eles são constantemente torturados e/ou enviados para campos de trabalho forçado. O partido utiliza de uma força militar para reprimir qualquer sintoma de pensamento alheio ao que eles consideram como aceitável.


O controle do partido sobre toda a sociedade é feito através do duplipensamento, este é um conceito central do livro e que permite ao estado ter o controle da população. A ideia é que os cidadãos aceitem ideias contraditórias pois assim se tornarão incapazes de pensar criticamente ou de questionar a verdade que lhes é apresentada. A base do duplipensamento é ensinada no lema do próprio partido:


Guerra é paz, liberdade é escravidão e ignorância é força”.


Nada mais são do que formas de garantir a submissão, principalmente dos proletas perante o estado, é uma forma de manipulação mental. Não posso deixar de comentar o quão absurdo seria uma situação como essa na sociedade, na qual o governo interfere na liberdade individual ao extremo induzindo a população à ignorância e ao controle absoluto. Preciso também destacar a forma como o partido se organiza para controle da sociedade, eles criaram quatro grandes ministérios:


“O Ministério da Verdade, responsável por notícias, entretenimento, educação e belas-artes. O Ministério da Paz, responsável pela Guerra. O Ministério do Amor, ao qual cabia manter a lei e a ordem. E o Ministério da Pujança, responsáveis pelas questões econômicas.”


Aqui o autor evidencia já as incoerências de um governo totalitário na qual o estado possui total controle sobre todos os aspectos da população e se utiliza de hipocrisias para iludir ou enganar a sociedade. O ministério da “verdade” no qual o personagem principal Winston trabalhava, na prática, era responsável por total controle e manipulação das informações que circulavam na sociedade sendo inclusive responsável por alterar dados de fatos e histórias do passado, reescrevendo-as de acordo com aquilo que o partido acredita ser mais interessante para si:


desse modo, era possível comprovar com evidências documentais que todas as previsões feitas pelo Partido haviam sido acertadas; sendo que simultaneamente, todo vestígio de notícia ou manifestação de opinião conflitante com as necessidades do momento eram eliminados. A história não passava de um palimpsesto, raspado e reescrito tantas vezes quantas fosse necessário.”


Creio que o grande objetivo do autor é fazer um alerta para que jamais uma sociedade forneça poderes tão grandes a um governo. A história nos comprova, vide a Alemanha Nazista ou a União Soviética Comunista, que a manipulação da informação, a rescrita da história e controle da propaganda são fundamentais para o controle da população, e, portanto, nós todos, unidos em sociedade, devemos evitar que males assim se repitam. E isso fica evidente na célebre frase do personagem O’Brien, membro do núcleo do partido:


Quem controla o passado controla o futuro. Quem controla o presente controla o passado”.


A frase reflete a importância da história e da memória coletiva como instrumentos de resistência ao totalitarismo. Ao controlar a narrativa do passado, o Partido busca apagar a memória da resistência e da liberdade individual, impedindo a possibilidade de uma mudança real no futuro. Afinal, cito aqui Edmund Burke (1729-1797), filósofo, político e escritor inglês e defensor da liberdade individual: “Aqueles que não conhecem a história estão condenados a repeti-la”.


A Oceania e sua política de governo se assemelham muito com os governos totalitaristas, principalmente, de esquerda que conhecemos. A população sofre de uma constante vigilância da polícia secreta através de microfones, câmeras, “tele-telas” (espécie de TV que enxerga e escuta o que se passa na frente dela mas que também é capaz de transmitir imagens e informações) ou até mesmo de informantes. Existe um culto à personalidade, o Grande Irmão, é o líder supremo do país, é um ser perfeito que nunca erra, uma figura quase divina que é venerado pelo sistema de comunicação do governo e por consequência exerce poder absoluto sobre a população. A oposição não existe e é ilegal. A que supostamente tenta existir é falsa e composta por membros do próprio partido com intuito de monitoramento de dissidências e de terem um inimigo em comum que justifique a vigilância extrema, sendo tratado todo e qualquer opositor como terrorista ou inimigo do estado. A população como já dito sofre de uma forte manipulação da informação tendo o estado como responsável por todos os meios de comunicação com verdades distorcidas e mentiras sendo contadas a torto e a direito. E por fim, mas não menos importante, um sentimento de nacionalismo extremo no qual o estado estimula um sentimento de orgulho e devoção em relação ao país, muitas vezes usando a ameaça de inimigos externos para justificar a supressão da oposição interna. Todas essas características encontramos no governo da Oceania descrito por Orwell, mas também encontramos na história nos governos de Stalin na União Soviética, Mao Tse Tung na China, Hitler na Alemanha Nazista, entre vários outros. E também encontramos no presente, com Nicolas Maduro na Venezuela, Kim Joung-un na Coréia do Norte, Vladimir Putin na Rússia...


No livro a história evolui, como se trata de um romance, após a contextualização da sociedade e da realidade do dia a dia, Winston se envolve com Júlia, e inicia ali um relacionamento amoroso proibido, pois sim, há um controle também sobre com quem você pode se relacionar e com quem não. Júlia também acredita que a sociedade da forma como está composta não é ideal, mas é mais conformada, tenta “jogar o jogo” do partido e viver sua vida à parte dele. Na minha opinião, Júlia retrata muito do que é uma parcela considerável da nossa população, não gosta das medidas do governo, é contra elas, mas acredita que não tem voz ou força para mudar os absurdos que estão ocorrendo e estão em jogo. Aqui faço um paralelo citando outra parte da obra de Edmund Burke que trata da importância de nos posicionarmos, evitarmos o conformismo e que devemos lutar e nos posicionar diante dos absurdos:


Tudo o que é necessário para o triunfo do mal é que os homens bons não façam nada”.


Winston e Júlia continuam seu relacionamento secreto sempre se encontrando às escondidas e em locais secretos. Com o tempo eles tomam coragem e através do contato de um suposto aliado, O’Brien, membro do núcleo do partido, decidem integrar um movimento de oposição que funcionaria às escondidas. A Confraria, como era conhecida, seria um sistema de oposição que estaria se articulando para tentar derrubar o regime. Contudo, após a denúncia de um informante que os acompanhava há muito tempo, eles são presos por conspirar contra o governo, manter posse de objetos proibidos e possuir um relacionamento proibido. São levados ao Ministério do Amor (que na prática era o da garantia de lei e da ordem – leia-se tortura) e lá ficam presos aguardando o dia de sua morte, pois é isso que imaginam que iria acontecer. Meses se passam, Winston não tem mais notícias de Júlia, ele continua preso em situações deploráveis, passando por constantes interrogatórios até que é levado para uma sala de tortura na qual seu interrogador é, justamente, o seu suposto aliado, O’Brien. Este, nada mais interpretava um papel quando os convidou para integrar a oposição. Durante extensas e dolorosas seções de tortura Winston, pergunta a ele a razão pela qual não o matam de uma vez e terminam logo com o sofrimento. Neste momento, O’Brien responde com a seguinte frase:


O partido não se interessa pelo ato em si: é só o pensamento que nos preocupa. Não nos limitamos a destruir nossos inimigos, nós os transformamos”.


O foco do partido é evitar erros de governos totalitários anteriores na qual se simplesmente matavam os opositores e estes viraram mártires, originando mais e mais opositores. O foco do partido é aniquilar de vez qualquer tipo de pensamento opositor para que este seja reintegrado à sociedade devidamente transformado:


quando finalmente se render a nós, terá que ser por livre e espontânea vontade. Não destruiremos o herege porque ele resiste a nós; enquanto ele se mostrar resistente, jamais o destruiremos. Nós o convertemos, capturamos o âmago da sua mente, remodelamos o herege. Extirpamos dele todo o mal e toda a ilusão; trazemos o indivíduo para o nosso lado, não de forma superficial, mas genuinamente, de corpo e alma. Antes de eliminá-lo, fazemos com que se torne um de nós”.


E assim de fato acontece, após muita tortura física e psicológica, Winston se rende e se converte aos ideais, em determinado momento da tortura ele abdica de tudo, inclusive seu amor por Júlia a qual manda sacrificarem para que a dor termine. Desse modo, ali estava a consolidação do que O’Brien e o partido queriam. Tendo sida conclusa a transformação, Winston é solto, se recompõe fisicamente após tanto tempo em cárcere e acaba reencontra Júlia, é tamanha a mudança que ambos não sentem mais nada um pelo outro e não nutrem mais o ideal contra o partido. O livro termina com a vitória do partido e assunção por parte de Winston que agora ele amava a Oceania, o partido e, principalmente, o Grande Irmão. Um fim melancólico, mas que nos traz uma profunda reflexão e um grande e final alerta, é assim que queremos acabar como sociedade? É renunciando a quem nós somos internamente em prol dos ideais do governo ou do que o governo acredita que seja o ideal para nós? Pense sobre isso...


CONCLUSÃO


Abordei até aqui os principais tópicos do livro, obviamente, que é um desafio e tanto tecer comentários desta que considero uma obra prima da literatura e que mesmo tendo sido escrita em 1949 tens ensinamentos tão atuais. A proposta de Orwell, creio eu, é um alerta eterno, para que jamais deixemos nos controlar e manipular tal como o partido e o Grande Irmão fazem com a Oceania. Orwell nos deixa clara a importância de respeitar liberdade individual e os perigos que corremos ao renunciar a ela; também retrata o quanto devemos lutar para não ter um estado que reescreva a história como bem entender ou que nos vigie a ponto de não podermos sequer pensar diferente do que eles julgam como “correto”, e, por fim, mas não menos importante, temos na prática a importância de sermos resistência à opressão e ao controle estatal. Que sigamos nessa luta de jamais deixarmos o estado tão grande como em 1984 e que possamos cada vez mais reduzi-lo a ponto de termos a mínima influência dele sobre nossa propriedade, liberdade e a nossa vida.


Aqui na MUSA somos consultores financeiros independentes, regulados pela CVM. Temos um time de profissionais qualificados e parceiros estratégicos altamente capazes e, estaremos ao seu lado prestando uma consultoria independente, livres de conflitos de interesse, comissões e taxas escondidas. Afinal, pra gente, a SUA liberdade financeira é o nosso legado.



Stefano Tremea

Stefano Tremea, CFP®

Consultor autorizado pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM), Certified Financial Planner (CFP) certificado pela Associação Brasileira de Planejamento Financeiro (Planejar) e habilitado junto à Superintendência de Seguros Privados (SUSEP). Possui mais de 10 anos de experiência no mercado financeiro. Bacharel em Administração de Empresas pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e pós-graduado em Planejamento Financeiro e Finanças Comportamentais pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS).

49 visualizações0 comentário

Comments


bottom of page